“Duas coisas me enchem de espanto e admiração: o céu estrelado fora de mim e a lei moral dentro de mim.” (Kant)

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Uma breve analise de 2000 à 2004 da política maringaense, ainda incompleta.

No ano de 2000, segundo as pesquisas, o Partido dos Trabalhadores ( PT ), com seu candidato a prefeito, o Sr José Cláudio Pereira Neto, começou em quarto lugar, uma campanha para Prefeitura da cidade de Maringá, localizada no norte do Paraná. Neste pleito, apesar da aparente situação desfavorável, o PT conseguiu chegar a vitoria no dia 23 de outubro do mesmo ano, depois de ter passado para o segundo turno, derrotando um candidato da coligação PDT/PTB, conhecido por Dr. Batista, médico e vereador influente nesse município. No primeiro turno, o candidato do PT, que não fez coligação com nenhum outro partido, e nunca ocupou nenhum cargo no executivo e no legislativo do município, eliminou as chances do então prefeito, Sr. Jairo Gianoto, do PSDB, passar para o segundo turno. Naquela época, a cidade vivenciava um período conturbado de movimentação política e de denuncias de corrupção ligadas a esse candidato, que tentava, então, sua reeleição.

Neta disputa concorriam também candidatos ligados a vários seguimentos da sociedade: Silvio Name Jr. ( PMDB ), Ines ( PSTU ), Ulisses Maia ( PPS ) e finalmente Cida Borgueti ( PPB ). Essa última candidata despontou para vida política na cidade à luz da trajetória de seu marido, o Sr. Ricardo Barros, ex-prefeito de Maringá e filho de um outro ex-prefeito, o Sr. Silvio Magalhães Barros. A família Barros, como são conhecidos na cidade, desempenha papel importante na política local. Contudo, a atuação de Ricardo Barros, durante os dois mandatos do Presidente Fernando Henrique Cardoso, conferiu a essa jovem liderança projeção nacional. O mesmo chegou a ser líder de FHC na Câmara de deputados por dois anos (2000 - 2002). Porém, naquele momento, a importante atuação política de Ricardo Barros e sua família não foram o suficiente para fazer Cida Borgueti chegar ao segundo turno. José Cláudio do PT, contrariando todas as avaliações e projeções tirou a vaga dessas reconhecidas e tradicionais lideranças políticas da cidade. Talvez, porque, nessa campanha para prefeitura de Maringá, estivesse vigorando aquele resgate dos ideais de cidadania, igualdade e a crescente consciência da necessidade de mudanças e reformas mais profundas, instituídas desde 1989, com a campanha de Lula contra Collor. Como afirma Velho (1990:47), mesmo tendo sido derrotado por Collor, a campanha de Lula foi importante porque trouxe para o cenário eleitoral brasileiro esses valores perdidos durante os anos de ditadura militar. Quem sabe, a onda petista das eleições de 2000 que chegou até Maringá e a alguns outros municípios do Paraná, não possa ser pensada como um outro momento em que a população de algumas importantes cidades do país decidiu revalorizar esses mesmos ideais - a marca da campanha de José Cláudio era "Política de Cara Limpa" e a promessa da construção de um governo "Democrático e Popular".

A preocupação desta pesquisa é, portanto, compreender o que foi o processo eleitoral no município de Maringá, no ano de 2000. Onde pela primeira vez o Partido dos Trabalhadores chegou ao poder. Com esta nova situação é que iremos buscar uma interpretação para esta nova realidade e, para tanto, faço as seguintes indagações:

a) por que os eleitores votaram em José Claudio? por ele representar, segundo sua propaganda, a "Política de Cara Limpa"?;

b) os votos em José Claudio representavam também votos no PT?;

c) será que ele representava a indignação da população com a politica exercida no Brasil e em Maringá, pelo prefeito que era do mesmo partido do presidente da república?;

d) o crescimento do PT e a grande aceitação do nome de Luís Inácio Lula da Silva como pré-candidato a presidente da republica nas eleições que ocorreriam dois anos depois, contribuíram para vitória de José Cláudio?

Mesmo, considerando o perfil político de Maringá como sendo o de um município com um passado conservador, devemos lembrar que foi nesta cidade onde ocorreu a primeira manifestação pelo fora Collor. Além disso, a expressiva vitória de José Claudio à prefeitura, com 70% dos votos ( 170.320 ), me leva a fazer algumas outras indagações:

a) por que além de Maringá, Ponta Grossa e Londrina, sendo que esse último município pela segunda vez, elegeram candidatos do PT?

b) como que em Curitiba, capital do Estado, após varias eleições ganhas, no 1º turno, pelos candidatos do Sr Jaime Lerner ( PSDB ), ex-prefeito de Curitiba e então governador reeleito, houve uma disputa acirrada que culminou em um segundo turno entre o candidato do governador, que, por sua vez tentava a reeleição (Cássio Taniguichi), e um do PT (Ângelo Vanhone)? Ao final, o primeiro foi vitorioso com uma diferença de votos muito pequena, tendo sua vitória sido questionada na justiça por suspeitas de fraude no processo de apuração dos votos.

Entretanto, passados dois anos do governo de José Cláudio, outras questões despontam para compreensão e análise no cenário político de uma cidade, de quase 300 mil habitantes, portanto, de porte médio e a terceira principal cidade do Paraná:

a) após a vitória, por que os votos obtidos por José Claudio na eleição para prefeito não foram revertidos para os seus dois candidatos a Deputado Estadual e Deputado Federal; quando seu concorrente direto Ricardo Barros se reelegeu e também conseguiu eleger sua esposa Cida Borgueti deputada estadual - lembro que a mesma tinha concorrido com José Cláudio à Prefeitura de Maringá;

b) em se tratando de eleições para o governo do Estado, câmara federal, assembléias legislativas, senado federal e presidência da república, por que os votos de José Claudio não foram revertidos para os candidatos do PT ao governo do Estado, Padre Roque, e nem para a presidência da republica, Lula. No caso do primeiro, ele não passou para o segundo turno das eleições no Paraná; e o segundo, apesar de ter vencido as eleições na maioria das cidades brasileiras, perdeu em Maringá, nos dois turnos das eleições presidenciais, para José Serra (PSDB), candidato apoiado pelo Sr. Ricardo Barros.

O Sr. Ricardo Barros, mesmo tendo sua candidata perdido as eleições municipais de 2000, conseguiu, nos dois anos seguintes, reverter o cenário político se consolidando como uma referência e estendendo isto para seus candidatos: Cida foi eleita e ele próprio foi reconduzido à câmara federal. Isso o habilita a concorrer a prefeitura de Maringá nas eleições de 2004 ou qualquer um dos seus aliados políticos. Hoje, seu nome inclusive aparece como forte opção para disputar uma vaga no Senado pelo estado do Paraná.

Uma observação importante, que merece uma análise mais detalhada, é o adoecimento e a morte de José Claudio, bem como os reflexos deste acontecimento no cenário político maringaense. A morte de José Cláudio empurrou o Partido dos Trabalhadores para uma disputa interna que buscava decidir quem seria o sucessor do então prefeito nas eleições municipais de 2004. Porém, na verdade, o vice-prefeito, João Ivo Calefi, não foi considerado por segmentos do partido como o "candidato natural" nesta sucessão.


Se os nobres colegas puderem colaborar, mandem textos para acrescentar. Assim quem sabe poderemos entender alguma coisa.

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