“Duas coisas me enchem de espanto e admiração: o céu estrelado fora de mim e a lei moral dentro de mim.” (Kant)

quinta-feira, 24 de abril de 2014

A POLÍTICA.

A política afina o espírito humano, educa os povos no conhecimento de si mesmos, desenvolve nos indivíduos a atividade, a coragem, a nobreza, a previsão , a energia, cria, apura, eleva o merecimento. Não é esse jogo da intriga, da inveja e da incapacidade, a que entre nós deu a alcunha de politicagem. Esta palavra não traduz ainda todo o desprezo do objeto significado. Não há dúvida que rima bem com criadagem e parolagem, afilhadagem e ladroagem. Mas não tem o mesmo vigor de expressão que seus consoantes. Quem lhe dará com o batismo adequado? Politiquice? Politiquismo? Politicaria? Politicalha? Neste último, sim, o sufixo pejorativo queima como um ferrete, e desperta ao ouvido uma consonância elucidativa. Política e politicalha não se confundem, não se parecem, não se relacionam uma com a outra. Antes se negam , se excluem, se repulsam mutuamente. A política é a arte de gerir o Estado, segundo princípios definidos, regras morais, leis escritas, ou tradições respeitáveis. A Politicalha é a industria de explorar o benefício de interesses pessoais. Constitui a política uma função, ou um conjunto das funções do organismo nacional: é o exercício normal das forças de uma nação consciente e senhora de si mesma. A Politicalha, pelo contrário,é o envenenamento crônico dos povos negligentes e viciosos pela contaminação de parasitas inexoráveis. A POLÍTICA é a higiene dos países moralmente sadios. A politicalha, a malária dos povos de moralidade estragada.

(Rui Barbosa)

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